A Cinemateca Brasileira e o Museu Mazzaropi vão recuperar e digitalizar seis filmes de Amácio Mazzaropi (1912-1981). Aprovado por edital da Lei Paulo Gustavo, pela Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo, o projeto “Digitalização e Difusão de Obras de Amácio Mazzaropi” tem investimento de R$ 200 mil e inclui mostras e debates no segundo semestre deste ano, tanto na sede da Cinemateca Brasileira, na capital, quanto no Museu, em Taubaté.
Conhecido pelo personagem do caipira, que marcou sua carreira, os filmes dos quais Mazzaropi participou se caracterizavam pelo humor, às vezes com um toque de melodrama, que abordavam temas e discussões importantes como o racismo, a reforma agrária, injustiças sociais, e a relação entre campo e cidade. Assim, Mazzaropi construiu um conjunto de obras que se voltou para o cotidiano de grupos marginalizados da sociedade brasileira, tendo o humor como ponto central e uma linguagem popular capaz de alcançar números de bilheteria impressionantes.
“A obra de Mazzaropi ocupa um lugar especial na história do cinema brasileiro pelo seu alcance popular. Com essa importante ação, a Cinemateca Brasileira reforça seu objetivo primordial de preservar o audiovisual e de disponibilizar o acervo através do processo de digitalização”, destaca Maria Dora Mourão, Diretora Geral da Cinemateca Brasileira.
“Mazzaropi fez um cinema genuinamente brasileiro que continua sendo visto e revisto. Seus filmes ainda hoje inspiram cineastas e artistas que, como ele, buscam retratar o Brasil. O restauro digital destes seis filmes vai reavivar Mazzaropi e as nossas brasilidades”, complementa Claudio Marques, Curador do Museu Mazzaropi.
Para a recuperação das obras, o processo contempla ações de pesquisa, conservação e digitalização de seis títulos, que passarão a contar com cópias em formato DCP para circulação em salas de cinema. “Ao lado de tantos outros filmes brasileiros, a obra de Mazzaropi merece ser restaurada, preservada, assistida e pesquisada”, ressalta Arthur Feijó, Conselheiro do Instituto Mazzaropi.
A Mostra a ser realizada pela Cinemateca contará com os títulos digitalizados por meio dos recursos da Lei Paulo Gustavo, além de outros títulos relevantes da carreira de Mazzaropi, também integrantes do acervo da Cinemateca Brasileira.
“O projeto potencializa ações de preservação e difusão da vida e obra de Mazzaropi. A digitalização, como eixo fundamental da cadeia de preservação audiovisual, facultará o acesso amplo e qualificado a títulos importantes da filmografia de Mazzaropi – como ator e diretor. A parceria com o Museu reforça o compromisso da Cinemateca Brasileira em atuar conjuntamente com seus pares na valorização de nosso cinema”, pontua a Diretora Técnica da Cinemateca Brasileira, Gabriela Sousa de Queiroz.
Os filmes contemplados no projeto pertencem aos acervos da Cinemateca Brasileira e do Museu Mazzaropi. São obras que não possuem cópias digitais para difusão e são importantes para filmografia de Mazzaropi, como a sua estreia no cinema, Sai da frente (1952), dirigido por Abílio Pereira de Almeida e Tom Payne e produzido pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz, e O Corintiano (1966), de Milton Amaral, que contém cenas de jogos do Corinthians.
LEGADO DE MAZZAROPI
A Cinemateca Brasileira conserva mais de 200 materiais audiovisuais relativos à filmografia de Amácio Mazzaropi, cujos direitos estão distribuídos em diferentes detentores, além de uma coleção de cerca de 600 fotografias, cartazes e outros materiais documentais.
O Museu Mazzaropi foi criado em 1992, em Taubaté, SP, onde, na década de 70 até meados de 80, existiam os estúdios de cinema da PAM Filmes. Possui o mais representativo acervo sobre a vida e obra do artista, com cerca de 20 mil itens, entre fotos, documentos e objetos; e atende visitantes e pesquisadores das áreas de cinema, TV, rádio e teatro, cultura popular, além de estudantes e público em geral.
LISTA DE FILMES CONTEMPLADOS PARA DIGITALIZAÇÃO
Sai da frente (1952), direção de Abílio Pereira de Almeida e Tom Payne – Titularidade Cinemateca Brasileira.
Produção da Companhia Cinematográfica Vera Cruz e estreia de Mazzaropi no cinema, na qual ele interpreta um motorista de caminhão que precisa fazer uma mudança de São Paulo para Santos, mas acaba se envolvendo em diversos contratempos.
Candinho (1953), direção de Abílio Pereira de Almeida – Titularidade Cinemateca Brasileira.
Terceiro e último filme de Mazzaropi produzido pela Vera Cruz. O papel do caipira, que se tornaria recorrente na filmografia do ator, aparece pela primeira vez. O filme é baseado no conto Cândido, ou o otimismo, de Voltaire.
Zé do Periquito (1961), direção de Amácio Mazzaropi e Ismar Porto – Titularidade Museu Mazzaropi.
O romance impossível entre o jardineiro de um colégio e uma estudante foi o segundo filme dirigido por Mazzaropi, após sua estreia na direção com As aventuras de Pedro Malasartes, no ano anterior.
O Lamparina (1964), direção de Glauco Mirko Laurelli – Titularidade Museu Mazzaropi.
Neste filme, Mazzaropi é um trabalhador do campo que acaba se juntando, por acidente, a um bando de cangaceiros, tornando-se o destemido e atrapalhado Lamparina. Sátira dos filmes de cangaço, gênero muito popular no cinema brasileiro.
O Corintiano (1966), direção de Milton Amaral – Titularidade Museu Mazzaropi.
Mazzaropi interpreta um corintiano fanático que entra em conflito com os filhos e com os vizinhos palmeirenses. O filme contém cenas de jogos reais do Corinthians, nas quais aparecem os jogadores Rivellino e Dino Sani, entre outros.
O Puritano da Rua Augusta (1966), direção de Amácio Mazzaropi – Titularidade Museu Mazzaropi.
Nessa sátira de costumes, Mazzaropi interpreta um pai de família conservador e moralista que, após um ataque do coração, passa a agir feito jovem outra vez, mudando o cabelo, as roupas e o gosto pela música. O filme conta com participações especiais de diversos músicos, incluindo Elza Soares.
MUSEU MAZZAROPI
O Museu foi criado em 1992 por João Roman Júnior para homenagear seu velho amigo, Amácio Mazzaropi.
A amizade nasceu nas serestas em São Luiz do Paraitinga, com o compositor Elpídio dos Santos, criador das músicas para os filmes de Mazzaropi e o maestro Fêgo Camargo, pai de Hebe Camargo.
Nessa época, ninguém podia imaginar que João Roman Junior acabaria comprando, anos depois da morte de Mazzaropi, o complexo que incluía os estúdios da PAM Filmes, onde hoje existe o Hotel Fazenda Mazzaropi®.
O Museu revive o patrimônio cultural inestimável de Mazzaropi e contribui para a atratividade turística e cultural da região.
CINEMATECA BRASILEIRA
A Cinemateca Brasileira, maior acervo de filmes da América do Sul e membro pioneiro da Federação Internacional de Arquivo de Filmes – FIAF, foi inaugurada em 1949 como Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo, tornando-se Cinemateca Brasileira em 1956, sob o comando do seu idealizador, conservador-chefe e diretor Paulo Emílio Sales Gomes. Compõem o cerne da sua missão a preservação das obras audiovisuais brasileiras e a difusão da cultura cinematográfica. Desde 2022, a instituição é gerida pela Sociedade Amigos da Cinemateca, entidade criada em 1962, e que recentemente foi qualificada como Organização Social.
O acervo da Cinemateca Brasileira compreende mais de 40 mil títulos e um vasto acervo documental (textuais, fotográficos e iconográficos) sobre a produção, difusão, exibição, crítica e preservação cinematográfica, além de um patrimônio informacional online dos 120 anos da produção nacional. Alguns recortes de suas coleções, como a Vera Cruz, a Atlântida, obras do período silencioso, além do acervo jornalístico e de telenovelas da TV Tupi de São Paulo, estão disponíveis no Banco de Conteúdos Culturais para acesso público.
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